segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

acho que o vou pedir ao pai Natal

Apaixonei-me por um boneco da Imaginarium: é a cópia do meu Chaparrito!


Tudo, os olhitos, o penteado, os acobreados do cabelo, o arzinho tão simpático e doce. Ainda por cima, veste como ele, mesmos tons, riscas... oh, coisa-mais-boa-da-mãe :)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

solidão (e outras formas de mau-estar) na missão da parentalidade

Dei comigo a fazer coisas que jamais imaginei fazer (talvez até jurasse que nunca o faria): gritar aos meus filhos e... (engolir em seco antes de escrever isto)... dar-lhes palmadas.

Sim, já dei palmadas aos meus filhos e não me orgulho de o dizer. 
Não, não passei a acreditar nas palmadas pedagógicas e, sim, continuo a achar que ninguém tem o direito de violentar ninguém - quer seja verbal, quer seja fisicamente.

E agora, onde fica a minha incoerência?
Fica num buraco triste e sem fundo. Fica numa desilusão imensa de mim para mim. 
Mora nos momentos de desespero em que cresce uma distância imensurável entre aquilo em que acredito e a urgência em mostrar-lhes que determinado comportamento é inadmissível.
E respondo com um comportamento também inadmissível.
Será que, afinal, acredito na palmada pedagógica? É que, reparem, luto contra a ideia de que a minha palmada foi um acto incontrolável. Eu não sou como os protagonistas da violência doméstica que depois se mergulham em choros e pedidos de desculpa, eu não digo que não o queria fazer (não o desejava fazer, mas sabia o que estava a fazer).
Afinal, quem comanda o quê nestes momentos? O desespero. É o desespero que toma conta de nós, é a ideia de "último recurso". E quando caímos em nós, pensamos que não pode ser. Sendo bem certo que a palmada surge após a escalada de comportamentos abusivos e repetidos por parte das crianças, há sempre hipótese de fazerem pior, e depois o que fazemos? Mais palmadas? Até doer a sério? Não, não pode ser.
E, assim, damos por nós num lugar solitário e dorido e de arrependimento atroz: falhámos numa das promessas mais importantes, falhámos num dos princípios mais básicos na nossa ética de vida. E cresce uma dor profunda dentro de nós. Olhamos os nossos filhos e pensamos coisas terríveis sobre os danos possíveis da palmada. (não, não me escondo atrás do "eu levei palmadas e não estou traumatizada")
Olhamos os nossos filhos e não nos resta mais senão aceitar a nossa humanidade, que nada mais é do que a prova da nossa imperfeição. Olhamos os nossos filhos e sentimos a urgência de compaixão: para com eles e... para connosco.
Voltamos a fazer votos com as nossas convicções - depois de as confirmarmos de nós para nós (haverá quem as mude e passe a incluir a palmada no seu repertório?).
Isto tudo dói terrivelmente. Por esses dias, fugimos de toda a informação sobre a parentalidade positiva e com apego e não é por tentar negar esses princípios - é por nos sentirmos indignos da companhia de quem se mostra mais capaz do que nós.
O amor entretanto sobrepõe-se e recomeçamos o regresso à sensação de sermos também dignos.
E todo este caminho é tão solitário.

Esta solidão tem muitas portas por onde entra: os juízos de valor, por exemplo, que já nos magoaram profundamente. Se já é difícil que as pessoas sejam compassivas na parentalidade biológica de cada um, garanto-vos que na parentalidade através da adopção o não são de forma implacável. Principalmente as pessoas que têm dificuldade em aceitar quem vive de forma diferente à sua. Sentimos nos seus olhares, ouvimo-lo nas suas palavras e recebemo-lo como balas no peito através de algumas atitudes - que nos doem mais ainda quando são direccionadas aos nossos filhos: primeiro atiram e só depois perguntam. E eu deixei de responder. Fechei a loja para quem me julgou implacavelmente e me deitou ao chão em três tempos morais. Acabou. Porque há limites para os falsos humildes, os falsos simples. Há limites para o espaço que damos aos passivo-agressivos das nossas vidas. Há limites para a benevolência perante atitudes sobranceiras e que trazem mau-estar de facto. Cada um que se amanhe com as suas inseguranças, mas que não as imponha aos outros por causa de serem diferentes.

E, assim, damos por nós numa solidão maior. É bem certo que é uma solidão também escolhida, mas não deixa de ser um lugar difícil.

Entretanto, fiz escolhas conscientes e calculadas. Mantenho todas as pessoas nos meus círculos, apenas umas estão nos círculos mais interiores enquanto outras passaram para círculos mais afastados do meu centro.

Dei com esta moça há algum tempo - cujo site certeiramente se chama "famílias imperfeitas", diz umas coisas que me têm ajudado. Fala desta solidão que  creio que todos, em alguma altura, já sentimos. Fala de algo que nunca devemos deixar de fora desta equação e cuja expressão em língua inglesa exprime muito bem: it takes a village (to raise a child) - a comunidade...



Cipreste

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

e a tentar fazer o encaixe de tudo isto

uma coisa por publicar, com o editor à espera; umas (novas) arrumações que planeei para a nossa sala de forma a podermos fazer ioga e meditação em família; a reestruturação que fiz nos nossos hábitos alimentares e consequente logística; a mudança do meu horário de trabalho implicando almoço em casa 4xsemana (ora com um filho, ora com o outro) e consequente logística; o vídeo/performance que está por fazer há 2 anos (dois - anos!); momentos para estar comigo e com o (luto d') o meu pai; acabar de ler o raio do livro que estou a adorar mas que me adormece, como qualquer outra leitura me adormece assim que caio na cama (vou começar a ler no carro, nos momentos em que espero os meus filhos entre escola-actividades); isto tudo sem sequer falar do meu trabalho (o de ganha-pão) porque aqui listei apenas o que faço na vida familiar e nos meus "passatempos".
e, depois, existe ainda muito eu, eu tudo e cada coisa, eu mulher, eu pessoa, eu casa, eu mundo. vai daí, dou de caras com este excerto:


in História de Quem Vai e de Quem Fica de Elena Ferrante via Não mudes nunca


pronto, ok, seu sei, nem sequer estou afilta e não, não penso que se esteja a perder um génio e sim, eu sei que estou a viver o que sonhei e sim, está a ser muito bom mas uma pessoa, às vezes, deve parar e verificar em que direcção está a seguir 
e, se necessário, dar uns toques no volante
a bem dizer, sou mãe há um ano e perdi um bocado de mim no momento inicial em que era preciso estar com a atenção virada para a adaptação dos meus filhos, agora começo a reencontrar-me nalgumas esquinas e está a ser muito bom
muito bom mesmo
um ano é pouco, bem sei, mas eu tinha saudades de mim
era só isso 

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

cá ando, neste emaranhado

já que não tenho tempo, fica aqui uma ideia do que eu gostaria de conseguir fazer e vir dizer, pela mãe preocupada:

Eu, que tantas birras e amuos tenho aturado aos adultos, não compreendo que dificuldade é esta, pisada, repisada e perversamente alimentada, em entender quem acabou de chegar ao mundo e demora a incorporar códigos, rotinas e convenções.
Não se aguenta mais esta conversinha da treta, lucrativa, bem falante e livresca, sobre disciplina e autoridade. Dissertam sobre educação e amor como quem dá dicas para abrir latas de atum sem verter óleo, mas as latas de atum são todas iguais e saem de linhas de montagem com idêntica mecânica, o que não se aplica à humanidade (por enquanto).
Em todo o caso, que valor tem isto num mundo onde os adultos andam desorientados, desfocados, gastando rios de dinheiro em paliativos, terapias, workshops, esperando receber em três tempos dos céus, dos gurus ou dos manuais a serenidade, a compaixão e a gentileza que nem têm tempo para dar aos outros? Quantos adultos conheço que dizem "por favor" e "obrigada"? Quantos vão dormir a bem? Quantos aceitam aquilo que é facto, o trânsito parado, o dia de chuva, a constipação que já atacou? Quantos não têm achaques nervosos a cada contrariedade? Quantos não vivem para alimentar os próprios caprichos, futilidades, gadgets, acessórios, roupinhas? Quantos não sofrem de um narcisismo crónico que mal disfarçam nas conversas de café e na urgência em aderir a nobres causas? Quantos não viram costas e fecham a cara, só pelo desagrado do que acabaram de ouvir? E quantos não se satisfazem depois a rogar uma praga, a espalhar um boato, a maldizer e vomitar palavrões?
Qualquer criança sabe - porque sente - que não se pode confiar em nada disto. Talvez ajude deixar de esperar se portem como macaquinhos amestrados, como brinquedos programáveis, como estabilizadores das nossas próprias emoções. Talvez ajude aceitar que são gente. E então tudo se aquieta, o que não significa que se resolva.»

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

coisas com que sonhei, emoções que desconhecia

Eu e os meus filhos no cubículo que é a nossa cozinha. Eles de pijama e robe. Os cabelos dele ainda meio molhados, ela de luvas sem dedos. Eu ao fogão. O livro Anita na Cozinha aberto na banca. Os ingredientes em fila. Velas acesas, o fio de luzes aos corações acesas à janela. O gato dormita. O pai à espera do nosso chamamento. Eu ao fogão e eles dois, lado a lado, observam o passo seguinte. Coloco a massa das panquecas na frigideira e ela certifica-se "sabes mesmo virar as panquecas, mãe?". Sei. 
Tudo o resto acontece rapidamente. 
A panqueca fica pronta para ser virada, eu fico nervosa, sinto a mão tremer. 
Olho-os, estão expectantes. 
Faço o jeito de salto mortal com a frigideira. 
Sucesso.
A partir daqui só consigo ouvir a salva de palmas que me dedicam os meus filhos com olhares brilhantes. Batem palmas entusiasticamente e eu sinto que vivi 41 anos e 11 meses para este momento. O mundo pára.

São os olhos dos meus filhos a brilhar. Os sorrisos mais maravilhosos e puros de sempre. As mãozinhas deles a dar-me vivas. A alegria dos meus filhos - dos meus filhos

Sim, eu sabia que teria de ser bom. Mas não, não pensei que isto fosse assim tão bom.

Cipreste

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

o meu melhor

Faço o meu melhor, ainda assim, às vezes, o meu melhor não chega.
Falho. Entro na minha espiral de pensamentos. O que fui fazer? O que fui dizer?
Apocalipticamente, imagino os meus filhos, já jovens adultos, num divã-psi com patrocínio dos meus métodos de parentalidade. Métodos? Reacções. Pois. Falho.
Amo. Sei que amo. Procuro solucionar-me entre expectativas, convicções (malditas!) e factos (o que é a verdade?). Amo e falho. Falho com aqueles que mais procuro proteger e amparar.
Penso em Beckett à procura de saídas intelectuais para os meus erros. Dou de caras com a discussão sobre a eterna perda das traduções: fail é falhar ou errar? Erro?
Oh, céus, faço demasiada carga sobre os meus ombros e depois fico cansada para o amor. Ou antes, com medo. Às vezes, tenho tanto medo do amor. 

Será isso?
Não sei.

Hoje, sei que o papel de mãe transportou-me para:

- o lugar onde, cada vez mais, me interesso menos com o que “os outros” pensam de mim
- a mira daqueles que preferem disparar primeiro e perguntar depois
- o confronto com a solidão desta tarefa
- a necessidade de abdicar de algumas das minhas utopias (não, Cipreste, nem todos os que dizem que te amam estão aptos a abdicar da sua arrogância para te ceder o benefício da dúvida; e tu, estás apta para fazer o mesmo no sentido contrário?))
- a necessidade de me sentir mais limpa, mais livre, com menos objectos, com mais presenças, com compaixão (tenho de apontar esta compaixão também para mim, eu sei, eu sei...)
- o saber, cada vez mais, pensar e respirar e contar (até mil, se necessário,) antes de reagir

É. Falho, mas sei o que não quero.

Não quero conflitos obtusos. Não quero levar com a agressividade passiva das frustrações dos outros. Tenho mesmo muito mais coisas (bem mais importantes e interessantes) com que me coçar e só sou mãe de dois.
Três, a contar com o Freixo, que (lá no meio das minhas inseguranças) descobri que está mesmo no lugar de filho no meu coração.
Ok, quatro, se contarmos com o gato :)

Bom fim-de-semana, 
Cipreste

p.s. obrigada por me lerem, obrigada pelo feedback que me deixam, não respondi ainda porque me faz sentir tão espantada, tão pequenina perante palavras tão generosas e companheiras. Tantas vezes, obrigada.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

o que eu gostava mesmo

Era de ter tempo e tranquilidade para me sentar a escrever (a melhor forma que tenho para arrumar as ideias sobre as quais matuto) acerca desta dualidade de ser uma pessoa que, por um lado, acredita numa parentalidade que se baseia na confiança e responsabilização das crianças por forma a dar-lhes a liberdade que merecem, mas que, ao deparar-se na parentalidade na adopção, se vê no papel que parece ser o da helicopter mom a quem todos gostam tanto de atirar pedras (sendo eu a primeira).
Gostava de escrever sobre como se vê a olhos nus o resultado do "tempo de qualidade" com os filhos.
A sério, os meus bichinhos têm um botão vermelho que liga assim que se passam uns dias menos "dedicados no tempo".
Aquela máxima de que os nossos filhos não precisam de bens materiais mas antes do nosso tempo é a mais pura das verdades.
Fizemos contas, muitas contas, pedi redução do meu horário e vou ter 3 tardes por semana para estar com eles, só com eles.
É agora ou nunca, é o tudo pelos meus filhos.
Os meus bichinhos.
Percebem? Não claro que não, pois se nem sequer estou a tocar o assunto pela rama.
Isto não é fácil, sabemos que há um comboio que nunca mais vamos apanhar (em comparação com as famílias biológicas) mas a vida deixa-nos sempre com o barómetro da biologia nas mãos e, embora o amor seja igual, nas nossas famílias - as famílias adoptivas, as coisas não são iguais às outras famílias.

O que eu gostava mesmo era de ter tempo e tranquilidade para escrever sobre isto e sobre como, oh, sim, é nisto tudo que acredito - obrigada, pai à paisana por nos arrumar assim estes assuntos tão bem arrumadinhos (no pun intended) (ah, e outro, oh, sim, eu também tenho especial embirração com os pontos de exclamação, principalmente quando vêm aos trios).

Enfim, o que eu gostava mesmo era de ter tempo e tranquilidade para escrever sobre isto.

Até já, ou assim,
Cipreste

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

terça-feira, 20 de outubro de 2015

overload de fofura

Ela

Pergunta se podemos ter um hamster.
Eu digo que sim, mas que se prepare para que sirva de refeição ao gato.
Ela pergunta se o hamster não pode ficar com a avó. Não pode.
Depois de estudar alguns cenários, todos inexequíveis, conforma-se: pronto, espero por crescer e ter um na minha casa, só não o posso trazer quando vier cá a casa por causa do gato.

Agradeço-lhe em silêncio que inclua o gato nos planos das próximas décadas.


~ ~ ~ 

Ele

Mãe, tens de ficar a olhar para a lua enquanto eu leio, só podes tirar os olhos da lua quando eu acabar o parágrafo.
...
Mamã! Estamos a ler, não é hora para beijinhos, vá, olha para a lua enquanto eu leio para ti.


Isto aguenta-se?

E mais vos informo que tenho foto que acompanha este momento, por acaso não se percebe bem o rosto dele mas não posso partilhá-la convosco, receio que o Chaparrito um dia me venha pedir contas - está fofa demais. Só levanto a ponta do véu um bocadinho... envolve aquele bocadinho de barriguita que ele tem a espreitar da camisola do pijama e os pézinhos de bebé dele. E mais não digo.

sábado, 17 de outubro de 2015

Sábado em Outubro

Um medley de Sábados de Outubro

Finalmente, Sábado. O Sábado exige nada menos do que uma maiúscula. O Sábado suporta tudo. Ao Sábado, conseguimos tudo.
Resta decidirmos entre ficar na cama ou fazer tudo.
Estou indecisa.
Aqui me exponho: sabe-me bem a cama. É o melhor lugar do mundo.
Ouvir os miúdos no quarto deles a continuar o jogo de ontem à noite, daqueles livros maravilhosos que os nossos amigos M.S. - nossos eternos fornecedores de roupa, livros e brinquedos, nos deram.
São tão cromos os meus filhos, são tão maravilhosamente cromos. Quando não estão na escola ou a estudar em casa, ora brincam aos professores, ora escolhem jogos didácticos, ou, não sendo didácticos, encontram aprendizagens em tudo. Tão maravilhosamente cromos, os meus filhos. Estou na cama e oiço-os, ela descreve o sistema digestivo, eles riem de algo que não apanho. Estou na cama e oiço os meus filhos a rir. São bons amigos, tomara que assim continuem, penso. Na minha cama – o lugar onde posso fantasiar conciliações e utopias, o lugar onde me sinto genuinamente grata.
Espero que os miúdos venham ter à nossa cama.
Não existe lugar mais redentor do que a cama do Sábado de manhã, albergando a família toda, em diálogos desconexos de obrigações.
Por outro lado, a manhã do Sábado, quando passada do lado de fora das camas, permitem o resto do universo em possibilidades. Ou, então: o sofá.
O melhor que existe para aprimorar o cenário descrito acima é a passagem directa para o sofá. Seja com uma taça de cereais, seja com o resto do bolo de chocolate que sobrou das comemorações da data especial de ontem. Com leite frio e desenhos animados da RTP2.
E a confirmação de que certas opções acabam bem. Tivéssemos TV-Cabo e teríamos de lidar com diplomacias para a escolha entre aquilo que consideramos minimamente construtivo e as parvoeiras que vislumbramos nas poucas vezes que nos quedamos em tv-cartoons e quejandos.
Continuemos a viagem de Sábado: cama, família toda, parlapiê com paródia, sofá, leite frio, desenhos animados, e bolo de chocolate.
Agora o café.
Não é Sábado de manhã se não houver cheiro a café. Um grande sim com ponto de exclamação para o café.
Siga. Deveres da escola. Que é para estarmos descansados amanhã.
Ela tem o primeiro teste para a semana, História e Geografia de Portugal. Ensinei-a a fazer resumos, digo-lhe «Lembras-te do que fizemos com Português? Faz o mesmo para HGP.» e ela dá saltinhos de contente. Apetece-me dizer «A sério, Magnólia?!», com aquele ar de pré-adolescente ainda-não-enjoada que ela faz - «A sério… mãe?!» e dá ênfase a “mãe” ou “pai” consoante a situação, e lá vai, toda empertigada.
Dá saltinhos de contente por ter de fazer resumo da matéria de HGP. O pai vem dizer-me que o pequeno está frustrado porque teve 3 erros no ditado. Agora que experimentou o sabor de ter “Zero erros! Parabéns!”, tem de aprender a errar como Beckett. Segue uma conversa sobre a perfeição e sobre a espera por Godot. São tão maravilhosamente cromos os meus filhos.
Quem dera poder dizer que fui eu que os fiz.
Mercado Municipal. Mercearia, padaria e talho do nosso bairro. Encontrar o P e a J, a R e o Super-V para outro café na esplanada. Ligar à Je ao J, saber se estão por cá. Dar um salto ao mercadinho biológico. Fazer o tal panelão de sopa. Deixar a sopa para depois e decidir colocar queijo e pão e uvas e laranjas e água e vinho num saco, seguir para o parque depois de ligar à F e ao A para virem ter connosco. A Magnólia pede para levar o fagote e nós ficamos a olhar um para o outro sem saber o que responder. O fagote toma o lugar do nenuco. Seguir. Deixá-los andar descalços no parque, contra as crenças portuguesas sobre as constipações. Rir, comer, beber, dormitar. As mãos dele sobre mim, sempre as mãos dele sobre mim. À medida que se conversa, a minha pele acarinhada e eu a sentir-me amada, nunca mais abandonada e muito menos em Outubro.
Seguir para casa a meio da tarde, passar pelo centro comercial e comprar as sabrinas para ela. Não temos sapatos de Domingo que lhe sirvam e vai precisar para a audição. Pretas ou azul-escuras? Quem disse que preto ou azul-escuro é entediante? Ora, que parvoíce, penso enquanto escolhemos as azul-escuras e ela segura o saco, feliz com a compra.
Chegados a casa, enrolamos massa folhada com Nutella. Os croissaints (ou coraçãs, como ele diz) ficam prontos em 5 minutos.
Pomos a mesa para o lanche. Comemos. Ela diz que vai estudar fagote. Cada um pega em pequenas tarefas sabendo que o momento vai ser desse instrumento grave que entrou de rompante nas nossas vidas. Eu leio, ele responde a emails, o pequeno pega nos legos ou na enciclopédia de instrumentos musicais – continua a dizer que quer tocar tuba. Quer percussão e tuba. Ela prepara o fagote e começa. Dó dó dó ré mi fá mi ré dóóó. E nós acompanhamos mentalmente. O irmão manda bitaites acertados e nós dizemos-lhe que tem de ser a mana a perceber isso. Ela percebe, ela sabe. Continua, dó dó dó ré mi fá mi ré dóóó. É tão maravilhosamente croma a minha filha. Diz piadas relacionadas com o fagote. Falta pouco para começar a dizer piadas que nenhum de nós na família há-de perceber. Ri-se de si. Frustra-se com o som que não sai como quer. Repete e diz “outra vez”. E eu de lágrimas nos olhos. Poucas coisas comovem como uma criança que tenta e repete para ser melhor.
Acaba o estudo. Desmonta o fagote, limpa o fagote, arruma o fagote à medida que diz “o meu fagotinho”. Não é dela, é alugado. Um dia, quem sabe…
Digo-lhe que vi no facebook que no dia 11 foi dia do fagotista, mostro-lhe este vídeo. Os fagotistas são tão maravilhosamente cromos. Onde já se viu uma flashMob de fagote. Rio muito. Rio muito alto. (Não costumo rir muito. Ou costumo? Não sei. Acho que rio pouco.)
Chamo-os para o sofá, vou buscar o portátil, com um de cada lado, vemos vídeos alternadamente. Um de judo, um de fagote. Ele espanta-se com os judocas, ela faz reparos sobre a posição do queixo daquele fagotista. Puxamos a manta, começa a arrefecer e vemos a vinha-virgem à nossa janela, está a mudar de cor. Há-de ficar vermelha daqui a poucas semanas. Bela.
Ao final da tarde, as minhas amigas vão mandar uma mensagem a dizer que estão no café, para eu ir lá ter. Ele vai insistir para que eu vá. Nuns Sábados irei, noutros não. Está tudo bem quando os amigos esperam por nós.

É Outono, é Outubro, é Sábado. Para sempre, Outubro será um mês major. Por estes dias, assinalam-se muitas datas para a nossa família. 
Sofro porque é verdade que o meu pai já não me vai chamar com a sua voz. Sofro porque me custa cada vez mais a distinguir do sofrimento que vejo no dia-a-dia no meu trabalho.
Esta é a minha vida, sempre muito cheia, sempre muito rica. Cantada por Maria Bethânia. Eu a viver emoções non-stop.
Chegar-se-á a hora de jantar e ele vai dizer que, porque não lhe apetece fazer nada, não quer que mais ninguém faça e há-de buscar algo para comermos. Não nos apetece ir fora. Mas somos sortudos, embora faça contas e queira poupar, ainda podemos buscar um frango ou uma pizza. Temos muitos agasalhos.
É Sábado e faremos planos para visitar algum museu amanhã, ou almoçar com a avó de um lado ou os avós do outro. Temos saudades tuas, pai.
Às vezes, é preciso dizer as coisas a fingir na segunda pessoa do singular.
Fez 4ªfeira um ano do primeiro dia doutro resto da minha vida, fez ontem um ano que vi a fotografia mais importante da minha vida (dito assim mesmo sobre a importância) e fez um ano que tivemos uma falsa esperança de viver um pouco mais sem a dor persistente da ausência.
Hoje é Sábado. Vou ali viver e sonhar. Vou pesquisar o preço dos bilhetes para concertos de ano novo e sonhar com viagens que não faz mal que não possamos fazer, porque o Sábado é nada mais do que a lembrança do cuidar diário. O sábado é nada mais do que a celebração do que se construiu nos outros dias.

Bom fim-de-semana,
Cipreste

p.s. talvez dever-se-ia chamar este blog Outubro a Outubro ;) 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

E digo-vos mais...

Estou certa de que muitas das "devoluções" de crianças estão ligadas a confusões que se instalam devido às pessoas não terem consciência prévia (nem apoio posterior) para perceber que a rejeição é "apenas" algo natural e que vai passar. Oh, isto dava pano para mangas e eu tenhoo horas (dias) da minha vida em leituras e reflexões sobre isto. Tivesse eu tempo para escrever...


A sério, tivesse eu tempo para escrever e acho que me dedicaria a isto de forma profissional.
Até já. 

E... disponham, posso não ter receitas, mas só a partilha da experiência (sei-o agora) pode bastar para acalmar os nervos a pais assustados e bem intencionados mas perdidos.

Cipreste

Mãe Preocupada: o melhor sítio da blogosfera portuguesa

título alternativo ao post: escrita brutal e brilhantemente bela que nos faz exclamar "raisparta"

«Somos iguais

- Veja, por exemplo, a menina é doutora, eu sou isto que não passa do pouquinho que estudei e bem me arrependo, mas que interessa? Somos iguais, mulheres, mães. Somos humanas, não é?
Foi isto umas semanas depois de o mais velho me ter contado que o rapaz dela chegara à escola todo marcadinho nos braços e nas coxas. Confidenciara-lhe em surdina, obrigando-se ao riso para diminuir a vergonha que sentia: um arraial de porrada na noite anterior, estalo e pontapé, por causa de uma dessas rebeldias de adolescente, nem percebera bem qual porque o desacato era o seu modo natural de ser. Não comentes, nem com a tua mãe, senão a minha dobra a carga. Mas ele comentou, e um dedo nos lábios foi o sinal para que eu não repetisse em voz alta o que acabara de ouvir. Fiquei-me de noite às voltas na cama, nem a leitura me desatou os grilhões ao pensamento. Quantas vezes o miúdo comeu e dormiu lá em casa? Quantos abraços me deu? A gente afeiçoa-se. Mãe de um é mãe do mundo, vê em todos o filho que podia ser tido, rala-se com as dores de crescimento alheias, contrai-se do ventre que pariu o universo torto, imperfeito, aleijão.
Depois, então, encontrei-a. A propósito de assunto que não recordo, disse-me aquilo. Que eu sou doutora, ela não passa do pouquinho que estudou, mas somos iguais. Quase a desdigo, porque sinto-me a milhas dela, em mundo paralelo, incapaz da tolerância que aprendi com aqueles que tiveram vida oposta à minha e cortaram nos afetos para amealhar em resistência. Calo-me, olho-a com secura e dou-lhe apenas o que a boa educação impõe.
Acontece que, subitamente, o rapaz aparece e vejo-os unindo-se num abraço feliz, olhos protetores nos olhos aduladores, cumplicidade de mãe e filho sarando todas as feridas, o laço firme que nem a rebeldia desata, o beijo maior que a sova. Do útero até à morte.
São tremendas, misteriosas, - às vezes até um susto - as coisas do amor. E a minha tese sobre o segundo pilar de Maastricht, além de ser um fastio, não me avisou de nada disso. Doutora do caraças.»

terça-feira, 22 de setembro de 2015

adopção: é normal ter sensações de rejeição ao filho

Há pouco, escrevia uma resposta a uma pessoa que me enviou uma mensagem a anunciar a adopção de uma criança em idade de início do 1º ciclo, a idade do Chaparrito quando nos conhecemos (coraçõezinhos!). Fiquei de lágrimas nos olhos, de felicidade, sem sequer conhecer o rosto destas pessoas. 
Revi os últimos 11 meses e subitamente dei por mim a escrever a dar "conselhos totalmente grátis" e... não solicitados. Depois dei por mim a matutar nisto, nesta ânsia de dizer às pessoas aquilo que não vi escrito literalmente nos livros e que nenhum pai adoptivo teve coragem de me dizer e que eu gostava que me tivessem dito. Isto foi o que lhe escrevi:

«Recolham-se, tu e o teu marido e o teu filho.
Cuidem-se.
Alimentem-se, durmam (se houver umas noites em claro, pelas preocupações dos primeiros tempos, dorme quando ele estiver na escola).

Poucas pessoas falam das dificuldades dos primeiros tempos, para nós pais, ainda menos admitem reacções adversas (de sensação de rejeição, de medo de ter dado um mau passo). Porque as pessoas pensam que é errado um adulto que fez uma escolha ter essas sensações, mas não é... é nada mais do que natural! E não significa voltar atrás nas decisões, significa apenas que nós também nos tempos de adaptar antes de viver a fase seguinte, como eu vivo agora... de felicidade imensa.

Desejo-vos muitas felicidades e espero não te ter assustado, mas eu gostava de ter tido alguém que me tivesse dito estas coisas, assim, e fazer-me sentir normal e não "errada". E depois, há, de facto, pessoas que não passam por estas sensações, mas essas são as raras e não ao contrário... isso sei-o hoje ;)

A sério, disponham dos meus contactos, inclusive se o teu marido quiser falar com o meu (parece sexista, eu sei, mas somos diferentes pelo género nalgumas coisas ;) ).»

Muito há para destrinçar nesta mensagem, mas, basicamente é isto: é normal sentir rejeição e isso não significa que se vai voltar atrás. E umas palavras amigas fazem muita falta nessas alturas.

Note-se que falo da adopção de crianças "mais velhas"... com memórias vivas, pensantes e falantes. Penso que a experiência com bebés há-de ser diferente.

Assim, de repente, penso que este é capaz de ser o post mais importante que escrevi aqui.
Disponham.

Tenham um bom dia.
Ciprteste




quinta-feira, 17 de setembro de 2015

mandar os filhos à escola

É hoje! É hoje!
A Mangólia tem hoje apresentação na escola, muitas mudanças, afinal inicia o 5º ano:
# deixa de ter apenas um professor
# vai para uma escola enorme, que vai até ao 12º ano (medo!)
# inicia a aprendizagem musical (já vos disse que escolheu clarinete ou fagote, foi aprivada para ambos e teve vaga para fagote?)
# vamos para um mundo bastante maior do aquele aconhego da escola primária
# depois venho cá contar-vos como foi
# até já

~ ~ ~

É muito esquisito se eu disser que me identifico muito com a mãe preocupada?

«Círculo vicioso
A nova diretora de turma estreou-se dizendo "as aulas prolongarão-se" e fazendo afirmações de admirável complexidade, como "não sei se essa informação já está online, mas se estiver, lá estará, se ainda não estiver é porque então não está e há de estar". Faz jus aos seus antecessores, que diziam "hádem dar-me os vossos contactos", "e prontos, agora vou falar das avaliações", "este ano houveram algumas notas muito baixas". A professora de geografia gastou a primeira aula a ditar excertos do manual e a obrigar os alunos a papagueá-los, um a um. O professor de educação física estacionou mesmo em cima da passadeira, apesar de o parque estar livre e ser gratuito, porque era o único lugar onde havia sombrinha. No final do trimestre, chamarão os pais para lhes dizer que a canalha não sabe falar, tem uma cultura vergonhosa e perdeu a noção das regras e do respeito pelos outros.
Entretanto, tenho a caixa de e-mail atafulhada com press-releases de lançamentos editoriais que vão mudar o mundo: diários da maternidade, conselhos para a harmonia conjugal e dietas à base de sumos. No jornal, diz-se hoje que as estatísticas são o abecedário do futuro. O rosto de Sócrates promove a credibilidade do ensino superior. Os europeus estão a tentar compreender que o propósito da verdadeira generosidade é a salvação do outro e não a própria.
Não sei para que é que mando os meus filhos à escola.»

must have

Orfeu de Bicicleta 

“O mundo não se divide entre Ocidente e Oriente, religiosos e tradicionalistas, mas entre pais de crianças pequenas e o restante da humanidade”, começa por escrever o autor, para quem esta classe faz parte da “categoria dos chatos provisórios”, formada por três tipos: “o bêbado, o apaixonado e os pais de recém-nascido. Só os suporta quem está no mesmo estado.” (pág. 37)

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

sigh

Pois… a escola e os métodos de ensino.

Se me ponho a pensar muito, fico angustiada com o tema “escola”. Como disse ali, a escola é um assunto muito próprio na adopção. Poderia ficar horas a falar disto. Tenho tantas ideias, tantas horas de leitura e reflexão, tantas opiniões e dúvidas - e a sensação da certeza de que estamos a fazer tudo ao contrário do que deveria ser feito. E não tenho tempo para me empenhar em fazer a viragem no paradigma em que estamos. (eu sei, eu sei, também me enjoam um bocado os conceitos como “paradigma” e prometo que não vou usar a palavra começada por “e”)

Dizia que não tenho tempo. Nós não temos tempo. Na nossa família, tratamos o tempo nas palminhas. Ele passou-nos rasteiras e estamos num caminho que nos pode induzir em erro e ficar na ideia de que poderemos recuperar (d)o passado que não nos foi permitido. Assim, temos de estar sempre muito atentos para não resvalar em ideias de “recuperação” mas antes concentrarmo-nos na nossa caminhada - para a frente com aquilo que temos porque o passado foi lá atrás.
Bonito, não é? Fui eu que inventei agorinha mesmo.
Mas não serve.
Não serve porque se a Magnólia não conseguir encaixar as divisões com números decimais não vai ser capaz de fazer não-sei-o-quê e depois nunca vai conseguir aquele trabalho. Estão a ver o filme? E damos por nós, ali, a treinar e a treinar e a treinar. A inventar exercícios práticos com coisas do nosso dia-a-dia a ver se a coisa fica mais natural, etc. Mas nunca sem largar a sensação de que isto de aprender deveria ser muito mais giro do que isto que estamos a fazer e nem por isso ajuda nesta coisa da atenção-concentração-memória. E depois também damos por nós a mandar estas ideias todas à fava. E depois damos por nós no mesmo sítio e a não econtrar formas muito alternativas, embora não competitivas, de estar.

Os meus filhos, como todos os irmãos, são pessoas muito diferentes entre si. Não têm problemas de aprendizagem, apenas tiveram percursos escolares diferentes porque fizeram o início do percurso em diferentes momentos das suas vidas. Ela teve um início mais atribulado, ele quando começou já se encontrava, pelo menos, “protegido”.
Ela é criativa, rica em histórias e sonhos. Ela surge com soluções improvisadas muito boas. Ela não escolheu violino ou piano, ficou desde logo bem definido que o seu interesse era por instrumentos de sopro. E chegou inclusive a dizer-me que “além disso” desejava um instrumento portátil, que pudesse “levar para os sítios”. Acabou por fazer audições para clarinete e fagote. Ficou aprovada para ambos e entrou em fagote. E eu dou por mim deslumbrada com esta ideia da minha filha tão tendencialmente fashion escolher um instrumento tão low-profile e fico assim… deslumbrada. São maravilhosas as nuances que definem a personalidade de cada pessoa. E as nuances que definem as personalidades da minha filha são, de facto, encantadoras.
É a Magnólia.

Ele é aquilo a que lá em casa chamamos “uma personagem”. A sério, o nosso filho é o máximo. Desde as suas expressões faciais, aos gestos que faz com as mãos quando tenta relatar algo, às questões complexas que coloca sobre a vida, é tudo tão delicioso nele. Adora matemática, especialmente os problemas. E adora ler. E adora escrever cartas. Ele gosta de aprender mas detesta os inícios, reage mal à dificuldade inicial antes daquele estado de habituação ao tema. Foge, chora, diz que nunca vai ser capaz, inventa desculpas e, no limite, passa por preguiçoso. Uma pessoa tão inteligente que prefere passar por preguiçoso a dar o salto e mostrar o prazer que tem em aprender. E depois, vamos no carro, ouvimos piano e ele chama-me para me explicar uma coisa da “música quando não faz barulho, estás a ver, mamã?” e eu entro em sintonia com o Universo e sinto toda a gratidão dos tempos por o meu filho acabar de inventar, naquele momento, a noção de silêncio e compassos de tempo.
É o Chaparrito.


Portanto, demos por nós com dois filhos cheios de vida para aprender, em idade oficial escolar, e com o ano lectivo começado. Demos por nós com uma escola a 150 m de casa e com vaga para ambos. Damos por nós neste sistema fechado, de ensino rígido e antiquado. Tivemos sorte, é preciso dizê-lo, com as professoras. O Chaparrito teve mesmo muita sorte, mais ainda do que a Magnólia que calhou com uma professora especial que não é capaz de falar dos meninos sem se comover. Estamos a falar de duas cinquentonas, não estou a falar de noviças que “ainda” se comovem. Reparem: a professora do Chaparrito tem-se correspondido com ele por carta durante as férias (um dia destes digitalizo-as e coloco aqui).

Não critico as pessoas, critico o sistema. Não compreendo como é que mantemos este sistema tão pouco natural. Não compreendo com tal intensidade que me dá vontade de fazer birra e bater com os pés. Depois, leio coisas destas e fico com vontade de chorar e de ir embora. (ainda por cima, eu, que não tenho aquela coisa de ter ídolos, sou uma espécie de fã da Tilda Swinton!)

Já pensei no ensino doméstico, mas isso dá para outro post, a conclusão foi de que: para já, e aqui, não dá.

E ficamos sem saídas, suspirando de alívio por, ainda assim, os nossos filhos conseguirem safar-se (como nós) neste sistema, não sendo daquelas crianças que acabam encaixadas no rótulo do deficit de atenção e hiperactividade ou da dislexia. 
Nuns dias tenho de fazer mais esforço do que noutros para me conformar que não tenho como oferecer alternativas mais simpáticas e naturais para que os meus filhos façam o seu percurso de aprendizagem escolar.



Noutros dias, o Chaparro pergunta-me “porque suspiras tanto hoje?”.

Cipreste


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Brincar

Não costumo brincar com os meus filhos. Jogo muito, mas raramente brinco com eles. Não acho muita graça, monto uns legos ou ajudo a organizar a cozinha, de resto, acho que devem puxar pela imaginação e acho uma parvoíce fazer fretes. Se é para brincar, que seja espontâneo. Hoje foi.
Cumpri a promessa de fazer roupinhas para as bonecas. Foi um belo final de tarde passado na companhia dos meninos e da minha mãe. Eis os resultados...

Nancy
Coisa mais fácil, uma meia cortada pelo tornozelo com dois golpes para os braços e o lenço foi recortado de umas cuecas



Barbies, Violetta e Ludmilla
Da esquerda para a direita:

- top e saia às pintinhas - recortados de umas cuecas, foi a única peça que costurei, a fita é um bocado de elástico, atrás, a saia faz um laço com um pedaço do elástico;
- vestido de noite – um lenço de tecido de tipo chiffon recortado ao centro com dois golpes para os braços, preso no pescoço e na cintura com fitas de cetim* que também usámos para o cabelo da boneca;
- vestido de cerimónia (este foi o que me deu mais graça de fazer, usando umas cuecas tipo boxer, de cetim!, compradas há mil anos, por engano :P ) – usei 2 cortes das cuecas, o 1º passei pelos braços e atei atrás e o 2º fez de capa, et voilà, na cabeça usámos daqueles materiais para trabalhos manuais com arame;
- vestido de malha – igual ao da Nancy ;
- a última toilette foi apenas um conjugar de adereços, o vestido era das minhas Barbies de quando era pequena, aliás a boneca era minha também :)

* eu sabia que cortar e guardar aquelas fitas horrorosas que agora as camisolas trazem cosidas por dentro e que andam penduradas por fora das golas iria servir para algo um dia :P

Isto deu muito gozo e muita risota :)

Até amanhã,
Cipreste

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Amanhecer

Não sei se vou conseguir. Para ser honesta, não sei se é isto que quero. Mas afeiçoei-me a vós, a alguns de vós. Passei a gostar de falar convosco. Mas não sei se vou conseguir falar convosco agora.

Agora é o início da era da maternidade. Agora é o início da nova era - a era após a partida do meu pai. Agora sou eu diferente. Eu estou diferente. Mudei. Afinal, mudamos. Sou a mesma pessoa, obviamente, porém houve mudanças cá dentro e reflectem-se no meu dia-a-dia, na forma como me movo, na forma como falo. Estou diferente e ainda me estou a habituar a isso.

Diferente pode ser tão-só a expressão para dizer que estou cada vez mais real e próxima das coisas pequenas e mais simples. Ficando, assim, mais complexa na extensão dos meus pensamentos, sendo agora uma missão mais difícil esta, a de escrever.

Queria contar-vos como é tão difícil cumprir o slogan Pessoano do “primeiro estranha-se, depois entranha-se” da maternidade ready-made que a adopção traz. Queria contar-vos como é possível que esta mais-difícil-tarefa-de-sempre me traga voluntariamente sequestrada neste estado de (sim!)-é-isto-que-eu-sempre-quis-fazer.
Queria escrever sobre as coisas práticas, deixar-vos dicas.
Apesar da vontade, dou por mim ainda neste estado de uma certa inércia comunicativa.
Talvez ainda precise de mais tempo. Hoje, li estas duas citações, explicam-me muito:

"Where there is much light, the shadows are deepest"
Goethe

“For my belief is that if we have five hundred a year and a room of our own; if we have the habit of freedom and the courage to write exactly what we think; if we escape a little from the common sitting-room and see human beings not always in their relation to each other but in relation to reality…then the opportunity will come and [we] will be born.”
Virginia Woolf


Sinto vontade de partir, de viajar com o Chaparro e com os miúdos, percorrendo o mundo. Não à procura da civilização mas perseguindo a maravilhas da natureza. Começaria pela aurora boreal.

Amanhecendo devagar nesta nova era.

Até já,
Cipreste

p.s. parcimoniosamente, deixo a grande notícia em post scriptum: chegaram os novos cartões de cidadão dos meninos - os nossos filhos são oficialmente nossos. Processo burocrático findo após 10 meses. Confere!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

e é isto


Este é o terceiro post que escrevo a justificar-me perante quem nem sequer me pede contas mas a quem sinto dever mais respeito (no mínimo, respostas).

Quero tanto falar-vos sobre o que é isto de adoptar duas crianças “mais velhas”. Quero falar-vos sobre a surpresa da maternidade. Sobre a minha constante luta interior, sobre a minha ânsia de ser boa mãe, de, quando muito, nas minhas falhas lhes causar males menores. Quero partilhar os meus encontros recorrentes com a discrepância entre o que reflicto e como ajo.

Penso que vou ter tempo de escrever e vir aqui partilhar os meus pensamentos convosco durante as férias, mas, como ultimamente aprendi a avaliar bem os compromissos que tomo, não faço promessas pois é bem possível que, ao contrário de o actualizar, deixe o blog em stand-by.

Somos pessoas com ligações ao mar.
Vamos a banhos e talvez voltemos já.
Talvez voltemos mais tarde.
Saudinha,
Cipreste

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

copy/paste

um pouco à pressa, cansada e descansada, preocupada e tranquila, cheia de dias cheios ocupados e desocupados, ainda sem conseguir vir falar convosco na primeira pessoa, responder a comentários e a emails, deixo-vos com este copy/paste ao qual digo "ámen" (adoro resumos bons!)
beijinhos e boa praia-trabalho-viagens-etc
Cipreste
~ ~ ~

Jennifer Lehr

Want respectful children?

If you want respectful children…

You gotta be respectful to them.

You want your children to listen to you?

You gotta really listen to them.

You want a child who is caring, sensitive and patient?

You gotta be caring, sensitive and patient to them.

You want a resilient child?

You have to let them practice struggling and recovering—with support.

And if you want your child to have impulse control…

you have to have it with them!

As in, don’t lose your cool. And when you make a mistake and respond in ways you wish you hadn’t (which we all inevitably do), you need to make amends—the benefits of which are numerous: 1) Your children will see you as fallible and thus human, 2) they’ll know you truly care about their feelings and 3) you’ll be modeling remorse and humility.

And just because you do treat them with respect and compassion, doesn’t mean they will transform their behavior overnight.

Patience, repetition and predictability are key.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

curtas

Chamo os meninos mas só ela comparece. Pergunto por ele ao que ela me informa que hoje ele só responde por "fada", chamo pela fada e lá surge por detrás da cortina com as asas e as antenas* de fada na cabeça

*a mim, parecem antenas, mas não sei se as fadas têm antenas

domingo, 19 de julho de 2015

ambições

"só" queria conseguir isto:

«Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos,(...) Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida. (...) O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis. Pai e mãe – solidários – criam filhos para serem livres.»

via este link, que não refere a autoria do texto

sábado, 18 de julho de 2015

ambições


Dos novos dilemas que surgem com a maternidade: fazer conviver a sofreguidão por livros de poesia com a sofreguidão por livros "infantis".


curtas

Enquadramento da situação: ter uma mãe que fala português e um pai que fala alentejano

Os efeitos do bilinguismo, numa prova de nêsperas, a minha filha diz: É bom! Só que ainda não consegui perceber bem se sabe a maçã ou a pêro.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Vou ali (e acolá) e já venho

Olá, olá

Só para dizer que o blog está em auto-gestão ("postagem" agendada), andamos a mil, motivo pelo qual temos deixado comentários e emails por responder. Voltamos já-já para vos dar as novidades das últimas duas semanas (e da próxima!) :)
Bom fim de semana!
Cipreste




do léxico do Chaparrito

Obrigadação
Resmate
Desfender
Desquecer
Canguruja

quarta-feira, 8 de julho de 2015

curtas

07h15
Dar um beijo ao Chaparro. Lembrá-lo dos pormenores logísticos do dia. Dar outro beijo ao Chaparro.
Espreitar os meninos. Dormem ferrados.
07h20
Descer as escadas, engolir uma taça de cereais.
07h25
Pegar na trouxa, ouvir os passos de alguém no andar de cima. O «Bom dia, mamã» que se ouve ensonado. Chegar-me ao corrimão, «Quem está aí?», «Sou eu, mamã.», diz ele ensonado, «Estou na casa de banho», explica. «Bom dia, filho, a mamã já não consegue ir aí acima, estou mesmo de saída para apanhar o autocarro», «Está bem, mamã, até logo, tem um bom dia», «Para ti também, amo-te muito».

Fazer a viagem com um sorriso "parvo" na cara, rever cada segundo de beleza, dar graças por isto. Por tudo.
E o pormenor atencioso «tem um bom dia».
E a doçura ensonada com que repete «mamã».
Oh céus, quanta ternura consegue uma mãe aguentar?

This is bliss.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Criar

Quando me dei com dois filhos no regaço não foi no amor de mãe que pensei, não foi isso que senti em primeiro lugar. Quando me dei com dois filhos no regaço foi a possibilidade o seu sofrimento que tomou conta de mim.
É óbvio que, se falamos de uma situação de adopção, estamos a falar de perdas específicas, mas não falo apenas do evidente sofrimento que se adivinhará a quem o percurso de vida familiar tenha sido interrompido precocemente. Falo do sofrimento natural e inerente a todos nós.
A primeira vez que me deparei com uma situação de stress da minha filha, com aquele corpo magro a tremer e ela a encostar-se a mim como se quisera entrar por mim adentro, senti que ia desfalecer, pensei mesmo que ia desmaiar. Quis fugir. Não era possível que o sofrimento daquele ser pudesse influenciar de tal forma a minha capacidade respiratória. Mas foi – é – possível.


Tenho dois filhos maravilhosos. São as pessoas mais corajosas que conheço. São pessoas de bem com a vida.
São os meus heróis.


O nosso início de vida foi como o é a vida no seu todo:implacável. Estávamos juntos há menos de um mês quando o estado de saúde do meu pai se começou a agravar até que nos deixou, ainda não havia passado dois meses da nossa vida em comum. Ao entrar numa vida nova e totalmente desconhecida com sonhos de serem um príncipe e uma princesa, prontos para viver felizes para sempre, os meus filhos vieram encontrar uma mãe em lágrimas.
Assim, a nossa vida começou com risos e choro à mistura, com conversas sobre o amor e sobre a tristeza. Afinal, não estavam ali apenas duas crianças de luto pela sua vida anterior, mas uma família inteira de luto.

Dou comigo, assim, no lugar em que me questiono como posso criar os meus filhos para saber estar de bem e conviver naturalmente com o sofrimento próprio da vida. Sinto, assim, que a dimensão do amor pelos filhos não passa, para mim, por descrições cor-de-rosa sobre como seria capaz de dar a minha vida por eles ou que os filhos é que vêm dar sentido à nossa vida. Aliás,sempre achei que existir para dar sentido à vida dos pais é no mínimo, e para começar, uma herança demasiado pesada para um filho.
Adiante.

Não deixo de ler o que posso sobre pedagogia, o que não é o mesmo que dizer que ando à procura da teoria acertada para educar. Para lá do ensino das boas maneiras à mesa, a educação para a vida nada tem que ver com discursos e é quando nos vemos mergulhados no meio destas emoções todas que damos verdadeiro sentido ao “educar através do exemplo”.
É óbvio que temos desejos para o tipo de pessoa que gostaríamos que os nossos filhos crescessem para ser, para além das suas essências próprias, mas nada mais do que o básico: ser boa pessoa, honesto, amigo, trabalhador, etc.


Passam 8 meses desde que a minha vida mudou para sempre – assim mesmo, com todo o dramatismo próprio à frase que acabo de escrever. 
Assinalo os dois grandes marcos desta viragem da minha vida: a confirmação de que a aprendizagem sobre o bem-querer vem do bem-querer ele próprio e não de palavras vãs, precisamos de actos coincidentes com as palavras; e a constatação de que o meu bem/mau-estar vai estar para sempre a passo com o destes dois seres maravilhosos que entraram de rompante na minha vida.

Este texto que linko resume o que tentei dizer neste post, de uma forma que receio ter sido atabalhoada mas que penso ser útil na partilha de experiências e dúvidas que cabem a muitos de vós que estão deste lado comigo. Acima de tudo, é sobre a nossa capacidade de luta contra o sofrimento de um filho quando percebemos e aceitamos que a vida (também) é sofrimento e que é possível conviver e rir com ele sem ter de decretar derrotas antecipadas à morte – pois esta é a única coisa que não tem remédio.

Brian Rea

«The most optimistic people often struggle the hardest. They can’t quite square what’s going on in the world with their beliefs, and the disparity is alarming.
(...)
In retrospect, my poetry project was a harmless sideline that kept me benevolently out of her way as she struggled not just to see the horizon but to march bravely toward it.»




Cipreste



domingo, 5 de julho de 2015

regressar à labuta

Foram 5 meses de licença de maternidade. A nossa opção foi de 150 dias [120+30(criança "extra")] a 100% do meu vencimento. Não partilhámos a licença, lembram-se que o Chaparro havia perdido o emprego? Pois, aconteceu tudo ao mesmo tempo para não ser monótono :P

Adiante, o que vinha dizer é que tive de regressar e embora goste do meu trabalho e dos meus colegas e tal, confirma-se o que sempre suspeitei antes de ser mãe: gostava de ser uma stay-at-home-mom.

Não estava era à espera de, às 8h, quando coloco o dedo no sistema de identificação biométrica já estar com saudades da minha gente.
Resta-me adaptar até que me saia o euromilhões ou tenha uma qualquer epifania.
Enquanto isso, dou por mim murmurando a toada desta canção ao longo do dia.

sábado, 4 de julho de 2015

ai, ai, cupido

De pequenino se torce o coração

dia 1
ele: A MB anda sempre atrás de mim, é um castigo!
eu: Está apaixonada por ti?
ele: Sim.
eu: E tu também gostas dela?
ele: Eu não!

dia 2
ele: A MB não me larga!
eu: Será que não gostas nem um bocadinho dela?
ele: Eu não!

dia 3
eu: O que estás a fazer?
ele: Um livro.
eu: Ah, que giro, e para quem é?
ele: Para a MB.
(acresce a informação de que a capa do livro estava crivada de corações)

Entretanto, contabiliza as namoradas, diz que foram 12 só este ano lectivo (incluíndo uma menina da 3º ano) :/

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Conselhos totalmente grátis

Hoje começamos esta rúbrica muito atrevida: conselhos básicos não solicitados.
Porque sim. Ao estilo pouco modesto de "quem vos avisa, vossa amiga é".

Primeiro conselho, dirigido a candidatos à adopção:

Confiem na vossa equipa de adopção e estejam disponíveis para observar os eventos por todas as perspectivas possíveis. Tenham a mente aberta. Sejam sinceros e não tentem esconder informações ou dúvidas por receio que possam ser utilizados contra vós. Não fujam. Não tenham medo de considerar hipóteses justificativas que normalmente não seriam contempladas no vosso círculo de reflexão. A equipa é o vosso grande aliado e será porventura quem melhor compreenderá as vossas dificuldades.
Acima de tudo, não se esqueçam que na adopção os comportamentos de todos, e especialmente das crianças, não podem nem devem ser lidos pelo mesmo manual do que o de crianças não-adoptadas.
Sim, educar um filho por adopção tem diferenças e elas devem ser consideradas, o que não significa que os filhos sejam tratados (ou amados, é melhor deixar a ressalva para alguém mais sensível) de forma diferente do que "outros" filhos.



Portanto...
Confiem na vossa equipa de adopção e partam para a adopção com a mente aberta

facebook


Para muitos utilizadores como nós o feed do facebook funciona como um aviso de actualização de sites que seguimos. Por isso, resolvemos criar uma página para o blog. É apenas mais uma ferramenta para facilitar a comunicação e nós temos o vício de facilitar a comunicação :)
Estamos aqui. Até já.


quinta-feira, 2 de julho de 2015

8 meses

Tenho tanto para vos contar que é difícil decidir por onde começar. Os últimos 8 meses foram muito intensos - tão difíceis e tão especiais. Resolvi começar com isto que escrevi e dediquei à minha família no dia em que entregámos no Tribunal de Família e Menores a petição para a adopção plena dos nossos filhos. É uma espécie de exercício em forma de resumo poetico-prático:


Superior Interesse do Amor

Outubro
O telefone tocou
Magnólia e Chaparro Júnior
A hora em que nos vimos pela primeira vez
Papá, mamã
Filha, filho

A vinda para casa
A primeira noite
O primeiro choro
A primeira dor
O primeiro dia de escola
O medo a instalar-se dentro de todos nós

Novembro
Conhecer o mano mais velho e a paixão imediata
Viva a capacidade de amor das crianças
Tios, primos, avós – e a última fotografia tirada com o meu pai
E o resto da vida a acontecer
O primeiro internamento do avô, duas semanas após estarmos juntos
Prepararmo-nos para o pior
Disse o médico
Preparar a rede para o pior
Conhecer a família alargada
Conhecer os amigos dos pais

Os primeiros recados na caderneta dele
A primeira chamada da professora à escola

Dezembro
O segundo internamento do avô
A dor dos dias seguintes
O testemunho do último suspiro do meu pai querido:
Adeus, paizinho,
Não vás, por favor, não vás
Até sempre, paizinho

O pai que os foi buscar ao campo de férias do Natal e lhes disse
“O avô foi embora, nunca mais vai estar connosco”
E a dor dos dias seguintes
O funeral a assinalar o nosso aniversário de casamento
As datas, sempre as datas
Ficarem ao cuidado da família alargada, sem ainda terem estado longe de nós
Os dias seguintes
O meu aniversário e um bolo absurdo com velas
E o Natal mais triste de sempre
(Era para ser o Natal mais feliz de sempre)
O Natal mais triste de sempre
As datas, sempre as datas
E os foguetes de ano novo que se ouviam
Na casa onde o silêncio reinava entre as nossas lágrimas
As datas, agora a contar para trás no que é a memória do meu pai

E o resto do mundo, ingrato, que não parou solenemente

E um Inverno duro e confuso
Os dias mais confusos de sempre
Cheios de medo e incompreensão

A questão: como era possível que aquilo fosse o resultado da minha busca de vida

Janeiro, Fevereiro
Tanta dor
Tanta força a ser necessária
E o amor a tentar pôr-se em bicos dos pés
E os dias com as suas coisas práticas a intrometerem-se
Era necessário assegurar
Refeições, roupa, trabalhos de casa, educação, regras, estabilidade
Amor

E a negridão a aproximar-se para dentro de mim
(Mas o amor já estava em bicos dos pés)
E precisar de ouvir: estão a fazer um bom trabalho
Precisar de votos de confiança, receber silêncio e ausências
Eu caio
E, um dia, receber uma carta generosa
De uma pessoa inesperada
(És uma boa mãe)
Guardar essa carta como um tesouro
E dar graças pelas pessoas bondosas
Levanto-me e grito
Deixo de precisar daqueles que não fazem um extra mile
Nem geográfico, nem emocional
Hoje e para sempre
Contar comigo e com o meu amor
E com as pessoas bondosas

Compaixão e saber perdoar

Março
Dizemos em voz alta: somos um rochedo
«Somos um rochedo.»

O primeiro dia do pai
E o amor
«O amor.»

Abril
Ele faz anos
Nós desdobramo-nos para lhe mostrar: amamos-te
Muito
Três festas: uma no dia, com os amiguinhos
Outra no Sábado seguinte, com os familiares
E no primeiro dia de aulas após as férias da Páscoa
Três festas, três bolos
E ele segue, com o terceiro bolo, a caminho da escola
Com a ajuda do pai, e diz-lhe:
A mãe é uma pessoa amorosa a fazer bolos de anos.

Confirmo o meu sonho:
Ser uma mãe-sempre-em-casa
Mas não posso
Regresso ao trabalho
Regressam alguns pesadelos nocturnos
Resolve-se com dormidas a quatro
Madrugada fora
Viva a cama dos pais
Abaixo quem julga as opções alheias

Ainda Abril:
Os nossos corações dão de si
Libertos do medo
Serenos

Maio
O primeiro dia da mãe
E o amor
Recebo outra carta: dela
«Mãe», diz-me ela, «amo-te»
Duas páginas repletas de juras de amor
Trago-a comigo, para ler em momentos de medo

Serenidade em pleno
Nos corações
Todos
Nos nossos sorrisos
Nos abraços matinais
Viver, agora e para sempre
Até que a morte nos separe

Junho
Ufa, a canseira de final de ano
Somos, como suspeitávamos que iríamos ser,
Pais participantes, lavamos tachos
Servimos sardinhas no arraial da festa de fim de ano
E saímos da escola à meia-noite
Damos um duche a duas crianças felizes que se deitam
Consoladas
Para ter sonhos bons
Abaixo os pesadelos

Lemos cerimoniosamente, na petição ao tribunal,
Escrita com a ajuda da jurista da nossa equipa de adopção:
Superior Interesse da Criança
E choramos
Da solenidade e da verdade
Desta expressão escrita agora dentro da história das nossas vidas

Tantas primeiras vezes, verdades e erros,
Tudo junto e plenamente humano
No superior interesse do amor
Hoje e para sempre
Que a morte só há-de separar-nos dos nossos abraços.

Cipreste

faltam aqui as patinhas do Freixo :)

terça-feira, 30 de junho de 2015

curtas

Ouvir os filhos a "brincar aos adultos" pode ser um bocado assustador. Quando mimetizam situações de stress, uma pessoa fica ali uns segundos na expectativa de os ouvir a reproduzir as barbaridades que, às vezes, damos por nós a dizer-lhes tongue emoticon
Para já, tenho suspirado de alívio, parece que têm bons filtros

tudo ao molho

uma página que não se percebe muito bem o que é, tendo como apresentação a seguinte mensagem «Somos por uma educação centrada na individualidade de cada ser que, promova a autonomia, criatividade e cooperação entre pessoas e em amor com a Natureza.», sem outros dados, tendo como imagem de "cover" uma daquelas citações erradamente atribuídas, não inspira muita confiança, mesmo sendo "pelo coração"

curtas

portanto, tenho dois filhos mas quem fica de castigo porque não deixa os outros brincar... é o gato squint emoticon
«oh, mãe, o Manji está a roubar-nos os brinquedos outra vez!"
«oh, mãe, o Manji está deitado em cima dos brinquedos outra vez!"
«oh, mãe, o Manji passou por cima dos brinquedos outra vez!"
and so on
^.^

curtas

Eu diria que é um exagero a quantidade de ovos e coelhinhos de chocolate que os meus filhos receberam. Diria mas não digo

Ainda Abril

Há um ano comemorávamos. "Só nós" foi o único desejo dos meus pais para festejar as suas bodas de ouro. E foi lindo. 50 anos de união é obra feita.
Hoje, enfim, hoje resta-nos apenas recordar. Recordar é pouco, não chega. Nada chega para ocupar uma ausência que ocupa tanto espaço.

Tanto e tão pouco e outros dias


(peças não tão soltas assim)
# o filho diz que vai dormir no céu quando vê que virei o edredon para o lado com estrelas
# o filho diz que se encontrará com o avô, lá no céu, durante o sono
# uma canção cujas primeiras palavras perdem a inocuidade porque me levam para as 4 da manhã da malograda madrugada de Dezembro
# pedir ao filho que diga ao avô que tenho saudades dele (e que lhe entregue um beijinho meu)
# pensar no que devia importar mais e desejar que abolissem os tpc
# o filho que aponta uma estrela do edrdeon e me descansa, que sim, que entregará a mensagem ao avô e aponta de novo a estrela “é ele” diz, em sussurro
# confirmar certas crenças e desejar que abolissem as provas nacionais
# assistir ao clube de leitura na escola e sentir as lágrimas correr pela face, voluntariosas lágrimas
# no dia seguinte, o filho diz “ah, é verdade, estive com o avô este noite e ele disse que também tem muitas saudades da filha dele e manda um beijinho”
# pensar na compaixão, e voltar a pensar (arrumar e desarrumar ideias, sempre)
# e completa “ele também tem muitas saudades da avó Bia”
# e eu penso que algo só pode estar certo neste momento, não obstante a tal madrugada que modificou a canção
# a expressão “cuidar dos vivos”

curtas

O meu filho a ver desenhos animados e a tentar ler os genéricos e a fazer, em silêncio, sinal de "thumbs up" ou a cerrar os punhos, conforme a cena corre bem ou mal, é heart emoticon

pai

o meu pai partiu
algumas canções mudaram para sempre



Getting close by going far away
Going far by staying here
To the kind of place
Where loneliness ‘s travelling best
Leaving ill and well alone
If all fails
All fails
Let the clock strike upon this resting hour

For now
For now
Leaving point despair
Leaving point hope

Getting lost to find a way back home
Getting back by letting go
Make another thought fall
In the flow of things
And death is just a breath away
But so is life
Saying this, but knowing not
Which scares the most

For now
For now
Leaving point despair
Leaving point hope

Whatever worry
running through the veins
When you go, we go
Whatever worry
Raise the flair
When you’re there
You’re there
Getting close
Abandoning point home
Leaving point despair
Looking up from the rush of things
in the point of life
that is now
a point of life
Adoro animais. Quando era miúda, havia quem me chamasse "Maria dos cães", na minha rua, porque andava sempre com uma matilha de cães vadios atrás de mim. Adoro o meu gato, gosto mais dele do que de muita gente. Tenho dito, é verdade. Chorei que me desunhei de cada vez que me morreu cada um dos companheiros de 4patas que já tive. E não me venham cá com histórias da longevidade do meu Manjerico que eu não quero saber: vamos morrer juntos, muito velhinhos.
MAS deixemo-nos de m*rd*s, um cão não é o mesmo que uma criança
Este vídeo é simplesmente estúpido. É uma ofensa a crianças - pessoas, que já passaram pelo drama do abandono. Idiotas. Misantropos de m*rd*!
E, já agora: não sou daquelas pessoas que desconfia de quem não gosta (aprecia) animais e vice-versa.

curtas

Tenho amigos que se queixam dos filhos não falarem, de não dizerem o que se passa na escola, etc. É bem certo que os meus ainda não chegaram à idade do armário e eu sei que um dia vou ter saudades do tempo em que me contavam tudo. Mas também não é preciso exagerar. São tramelas como a mãe, não sabem fazer resumos tongue emoticon
Reparem, à mesa, o pai conta qualquer coisa sobre o seu dia, depois a irmã, ao que ele pergunta se queremos saber como foi o seu dia. Respondemos que sim. E ele começa:
- Então, de manhã, começámos por escrever a data, depois escrevemos o sumário...

dia da criança

(post pouco ortodoxo para o dia da criança)
eu (indisposta à custa dos abusos de fds): não consigo almoçar, acho que vou fazer um chá de limão
filho: e se fosse um gin, mamã?

dia da criança

Das coisas que nos povoam o pensamento - nós, aqueles cujo pensamento tem caminhos paralelos para sobreviver a ausências: Hoje, o meu pai teria perguntado à minha mãe «o que é que compraste para dar aos meninos?».

«E esta música diz o quê, mamã?»

erm...

e damos por nós

e damos por nós a olhar para o lado e a perceber onde encaixam as peças
e conformamo-nos
com os dias inacabados,
com os planos que ficam pelo caminho,
com palavras fora do sítio, com o que não foi feito no início deste mundo
e com o que foi feito sem contar, sem sonhar, sem querer
e com o mundo que ficou pelo caminho e que não pudemos embalar
porque o que paira no ar não se diz de repente, antes sente-se, vive-se
e damos por nós a sorrir aos planos que ficam na gaveta, foi tão bom sonhá-los e ter agora a serenidade para os largar
damos por nós num lugar tão acertado, mesmo naquilo que sai de fazer das tripas coração, porque I bet we been together for a million years
é absolutamente *fascilante* (citando o meu filho)

da minha infância

apelo a sugestões


sendo que os DVDs do Noddy desapareceram e que apanho seca com os filmes da Barbie, alguém quer deixar sugestões de filmes se faz favor?
obrigadinhas
p.s. não tem de ser necessariamente do calibre "era uma vez", estou apenas a aproveitar para repetir o link tongue emoticon

curtas

o pai goza comigo e ela diz: oh, paiiii!
e eu penso "oh, que querida, a defender a mãe"
o pai pergunta-lhe: o quê?
ela responde: não se goza com as pessoas mais velhas

curtas

2º dia de férias e os meus filhos estão a brincar aos professores

curtas

É bem certo que cada um é como é, e tal, mas eu tenho de desabafar: o Noddy é um sonso.
E uma seca.

curtas

Com a chegada dos meus filhos, em idade escolar, o Acordo Ortográfico entrou na minha vida

curtas

que tipo de mãe és: daquelas que vão roubar chocolates aos filhos depois de os deitar. shiu.
2 ou 3 coisas sobre a escola:

# eu seria uma mãe muito mais feliz se não existissem tpcs

Não é que me custe pôr os meus filhos a fazer os tpc, são responsáveis e nem sequer tenho de os mandar ir fazê-los. O meu filho diz sempre que é pouco – “São só três fichitas”.
Também não é por achar que as professoras estão a tentar que os ensinemos em casa, é mesmo porque “tem de ser”. Aliás, pedem-nos sempre para não lhes dar as respostas e tentar reduzir ao mínimo a forma como os apoiamos nessas tarefas em casa.

É pelo tempo para brincar, e fazer outras coisas igualmente divertidas, que os miúdos acabam por perder em prol dos tpc

# os meus filhos devem ter as melhores professoras de sempre. Com elas ninguém faz farinha mas também não vão dali sem um carinho. My kind of gals.

Nunca tinha pensado no descanso que é ter uma professora assim. Sinto-me mesmo muito grata por isto.

São amorosas e ferozes, como escreveu uma menina da sala dele “A minha professora é linda e minha amiga, a minha professora ensina-me muitas coisas, a minha professora é muito feroz” tongue emoticon

# já fui a algumas reuniões só de pais e outras com as professoras e os pais e tenho a dizer que fiquei surpreendida pela positiva, sim senhora, nunca pensei

sempre tive das reuniões de pais uma ideia de serem uma espécie de “reunião de condomínio”, mas tenho tido muita sorte até agora, tudo gente muito cordial, uns mais calados outros mais faladores, mas todos participantes, ninguém a armar ao pingarelho

# quem me dera poder escolher uma método de ensino diferente – mas não me perguntem qual que não sei, seria algo em que o potenciar das capacidades dos pequenos não estivesse limitado a este formato tão formal que inventámos

vejo muito potencial na miudagem toda que fica pelo caminho neste modelo de ensino que temos

# que fixe que, sem querer – porque nem sequer pensámos nisso, os meus filhos foram parar a uma escola pública pequena e bastante heterogénea nas “origens” dos alunos

só depois de os ver lá dentro e começar a olhar para o lado me dei conta a sério disto e da sua importância

# não obstante muitas coisas que se podem apontar e que devem melhorar, sempre adorei a escola e revivo agora esta sensação tão boa, porque a minha gente gosta da escola (so far)

Com a água que tem passado debaixo desta ponte, ter as professoras como as nossas aliadas principais de dia-a-dia e encontrar na escola um porto seguro é algo que não tem preço.