sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

num segundo se evolam tantos anos

AVISO: não foi, nem é minha intenção, mas este post pode ser um pouco (muito? nem sei) depressivo



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Eu sou muito cómica, a sério, divirto-me muito a mim própria. Devo ser simultaneamente a pessoa que mais me entedia e a pessoa que mais me entretém neste andar à roda com os assuntos - baralhar, voltar a dar e baralhar de novo.
Confesso que tão depressa é divertido (no sentido cómico) como também cansa.

Então… não é que, por causa do post abaixo, me fui lembrar da canção da Aimee Mann – Wise Up desse filme grande que é o Magnólia (oh, coincidência néscia a do nome deste filme com o nickname que arranjei para a minha filha neste blog).
E, como se não bastasse, fui ver o vídeo.

Oh, minha nossa senhora das chafurdeiras na dor, tende compaixão de mim.


Vou deixar-vos já o vídeo, para os mais corajosos.



Agora, reparem no que me aconteceu ao ver o vídeo, faço-vos acompanhar da letra da canção e da minha interpretação (podem pôr a tocar de novo se pertencerem, como eu, à congregação de nossa senhora das chafurdeiras na dor)...

Primeiro, a imagem do meu pai e eu com ele nas suas últimas horas. Que dor. Que dor!
É bem certo que guardo estas horas como um dos meus maiores tesouros.
A vida não me deu o primeiro suspiro dos meus filhos, guardou outro requinte para mim, deu-me o último suspiro do meu pai.

Estou eu a achar que a dor de consciência por me irritar com os meus filhos é um problema, vou ouvir música para lamber feridas (sou tão estúpida,  tão freudamente… estúpida) e dou de caras com esta imagem deste vídeo que já vi milhentas vezes. 

Não me posso queixar, eu é que fui à procura. Lágrimas, portanto.


Sigo com o vídeo, aquele “you’re so stupid” dito em sussurro. Outro murro.

E aparece-me a minha mãe, viúva. Dói de novo.

Depois, começamos a aparecer todos. A imagem do cheque pago pelo “superior knowledge”. Conhecimento superior my ass. Continuamos tão básicos e primitivos como desde Edgar Adão e Eva ou lá como se chamou o primeiro Homo Sapiens (sabem que quer dizer “wise man”, certo? hahaha).

Seguimos, não fazemos pausa no vídeo. Aparecem os medicamentos novamente, as drogas, o álcool. Não, nem esses nem a grande sapiência da medicina te vai trazer a resposta. Estúpidos! Pensar que pode existir uma cura para a existência, estúpidos.

Nem a água da chuva há-de lavar a tua dor.

Desde os mais acompanhados aos mais solitários, estamos sós na nossa essência, na nossa busca.
E a derradeira imagem da infância. Saber isso desde a infância (deve ser a tristesse que sentia em criança). Essa imagem da criança frente a um livro (pois não, também não está nos livros, amigo) e verbaliza: give up.

Saber, desde o início – o do mundo e o nosso, o de cada um de nós, saber que há uma parte disto que só vai começar a funcionar em plenitude quando tivermos a sensatez de parar de querer saber a solução para o mistério da vida


Por vezes, só por vezes, como disse David Mourão-Ferreira no poema, E por vezes por vezes ah por vezes/ num segundo se evolam tantos anos.


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Comic reflief: quando acabei de ver o vídeo, ligou-me uma pessoa que não conheço, apresentou-se, chama-se... Dores.

A sério, acho isto bastante divertido.

Não se zanguem comigo se levarem daqui uma pontinha de angústia. Desculpem qualquer coisinha. Vou pensar nalguma coisa para vos deixar aqui à laia de melhor disposição para o fim-de-semana.

Um abraço,
Cipreste

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