segunda-feira, 7 de março de 2016

a nova era

O que mais marca isto de se viver numa nova era é a ambivalência de cada momento. Niemeyer esteve muito bem quando disse que a vida é rir e chorar a vida inteira. Já sabíamos?  Pois já, mas ele é que o disse dessa forma bela e simples (haverá forma de se dizer belo sem ser simples?).
Repito isto tantas vezes, com este ritmo de respiração, por vezes arrogando-me na linguagem da Maria Gabriela Llansol:

a vida___________ é
rir
e chorar
a vida inteira______________________

Tenho andado muito atarefada com o luto do meu pai porque me tem doído muito. Tanto. Mas tanto que às vezes parece que, mais do que as pálpebras de chorar (que não choro), são as mãos que me doem.

Há dias, disse à minha psicóloga que me sinto nesta nova era como quem acabou de fazer uma mudança de casa.

Vejo-me sentada no chão de uma sala com os livros todos desempacotados (já estão desempacotados, ao menos isso). Estou sentada no meio dos livros, em pilhas maiores ou menores, no chão. Estou naquele momento em que olho à volta e ainda não percebi como os vou dispôr, como os vou dividir. Aliás, há alguns livros que já nem me lembrava de ter, ou talvez que até nunca tenha aberto. Está aqui tudo, só não foi tudo usado e agora tem de ser minimamente organizado.

Consegui perceber já uma coisa que me faz compreender muito bem o estado de constante inconformidade da minha mãe. A partir de agora, grande parte (senão todos?) dos momentos de felicidade serão acompanhados de tristeza.
Senti-o há bocado. Arrumei esta ideia à hora de almoço ao ver o Chaparrito tão feliz a dar uma volta naqueles comboios de moedinha, feliz por ter ido excepcionalmente almoçar com os pais ao centro comercial, ainda por cima num dia de aulas. Senti alegria pela alegria do meu filho, senti tristeza imensa por não ter cá o meu pai para vivermos esta alegria todos juntos.


Como é possível que se tenha perdido esta pessoa? A minha mãe tem razão quando resiste. Eu compreendo-a. E não vivi 50 anos com ele.


Hoje, os meus pensamentos estão mais com a minha mãe do que com ele. Deve ser isto aquela coisa do cuidar dos vivos.
Vou ligar à minha mãe. De novo, já nos falámos hoje.













Boa tarde a todos, desejos de boa semana,
Cipreste

1 comentário:

patricia disse...

A foto é uma delicia...espelha a cumplicidade e a felicidade do 1º dia do resto de uma vida ;)
Patricia