quarta-feira, 5 de abril de 2017

curtas do último dia de aulas e do primeiro dia de férias

Ai que bom, amanhã podemos dormir até tarde!
A hora deles acordarem em dias de aulas é às 7h30. Habitualmente encontro os dois a dormir. Ele acorda facilmente. Ela é como eu, custa-lhe muito o despertar.


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A que é que os apanho a brincar?
Às escolas, claro.


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À noite, estou na cama a ler, são cerca das 11 e meia, oiço alguém a ir à casa de banho, vou espreitar. É ele. Pergunto se está tudo bem. Acena que sim. Só chichi. Beijo-o. Volto para a cama. Ele passa pelo meu quarto, dá-me um beijinho e diz "vou dormir só mais um bocadinho".


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Hoje, antes das 7h30, passo para a casa de banho, do quarto dele vem uma imensa e gloriosa luz matinal. Está deitado na cama a ler.
Ai que bom, amanhã podemos dormir até tarde!
Haja uma rpé-adolescente em casa para honrar esta liberdade.






Finalmente, férias para os pequenos. Quem me dizia do desafio que é a escola (hoje em dia?), não estava a brincar. Uff. Siga, para bingo. E a procurar estar melhor com estas dimensões que não deixaremos que nos esmaguem. É curioso (e tão bom) como, da noite para o dia, se pode subitamente sentir as energias e esperanças renovadas.

Bom dia, bom dia :)

Cipreste

das limitações * das falhas * do perdão




terça-feira, 4 de abril de 2017

estamos nisto juntos: é o que quero gritar

«The experts say you are the solution but downplay the side effects. Few want to hear what the adoptees experience yet they continue to “know what’s best”. (...) You are so incredibly selfish.(...) You are still heartbreaking and sometimes it’s a struggle to have you around. You never leave. Ever.(...) Adoption, I do not love you, nor do I hate you. You are just you and we are in this together.»

Acredito que hei-de encontrar uma fórmula para estar activamente nisto com elas - as pessoas que foram adoptadas, enquanto família e enquanto comunidade. Mesmo confrontada a cada dia com as minhas limitações como mãe - vivo actualmente a maior angústia neste campo. Aos dois anos e meio de caminhada, estou ainda no início desta caminhada que será o cerne das nossas vidas. O trauma, esse mundo obscuro, não há-de tomar conta de nós. 
Ontem, chorei ao ler um texto sobre o autismo, porque é tão fácil encaixar tantas outras condições de vida nessa reflexão, condições que saiam da norma. Revi-me-nos:

proposta: troquem as expressões autismo e deficiência por adopção

« (...) começámos a transitar da disposição todas-as-crianças-têm-o-seu-tempo-próprio para o território muito mais inóspito do há-algo-de-errado-aqui (...) Rapidamente percebemos que aquela condição se manteria toda a vida e que era imperioso fazer o luto da criança idealizada para que a criança real encontrasse, na reconfiguração trituradora à qual por vezes temos de submeter os nossos melhores sonhos, o seu espaço vital. (...) Há que ter a coragem de nos despirmos de todas as explicações reconfortantes para o fenómeno da deficiência. Eu, por ser parte interessada e implicada, levei anos a fazer isso. Anos absolutamente injustos para o meu filho, que se via sempre, injusta e involuntariamente, equiparado à criança que nunca chegou a nascer, a criança perfeitinha das conversas que versam o tema da gravidez e do parto, a criança que o obrigámos a usar sobre o rosto como uma máscara de ferro. Eu levei muitos anos a abrir os olhos e o coração. Mas eu sou estúpido e lento. Vocês são melhores. Eu sei que são.»

Uau. 

Haja desconhecidos que nos escrevam. Haja honestidade, respeito, partilha e compaixão.

Bom dia a todos.
Que o dia vos seja limpo,
Cipreste