sexta-feira, 15 de novembro de 2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Ajuda

(publicado inicialmente no facebook)


Acto de auxílio é uma das definições desta palavra.
Não sendo uma pessoa crente numa entidade superior única, sou crente no bem-querer entre as pessoas. E aqui entra uma expressão-chave: entre.
Tenho pensado muito sobre este assunto nos últimos tempos, um pouco mais nos últimos 3 anos. Muita água tem passado debaixo da minha ponte. Alguns sustos e aflições.
Vou juntando as expressões para esta reflexão: ajuda; entre; e escrita.
É de escrita que também quero falar. Escrita e leitura - suas necessidades e eventuais utilizações (que é como quem diz da serventia). E do fenómeno dos livros de auto-ajuda.
Conheço poucas pessoas que admitam ler livros de auto-ajuda e vejo lógica nisso, já vou explicar a razão.

Antes, quero dizer que, vivendo uma “condição” específica  há muito tempo, no último ano encontrei ajuda além da habitual (família, amigos, colegas de trabalho, etc.) nessa coisa que um dia pareceu tão distante de mim: os grupos de entre-ajuda. Sim, a partilha das nossas dores e receios com perfeitos estranhos. Ou deverei dizer estranhos perfeitos? Sim, isso.
Aprendi mais umas lições. A primeira (a velha lição) foi sobre não negar à partida uma ciência que se desconhece.
Não me vou alongar sobre o que ganhei por me abrir a mais uma dimensão das relações humanas. É tudo demasiado óbvio para mim, e compreendo que possa parecer demasiado obscuro para quem nunca o praticou. Fiquemo-nos nas nossas realidades se assim for mais confortável. Está tudo bem.

E volto às expressões que juntei para este texto e à auto-ajuda.
Ontem, encontrei um livro na caixa de correio. Já o encomendara no dia 04 pelo que a ansiedade de o receber estava já sossegada. Trata-se de um livro escrito na primeira pessoa por alguém que vive uma condição parecida com a minha. Digo parecida porque todas as histórias são diferentes, obviamente. Entrei em casa e li logo as 2 ou 3 páginas iniciais. Hoje, tenho estado a fazer tarefas soltas entre as quais pego no livro amiúde e vou lendo uma página de cada vez. Gostava de ficar a lê-lo de seguida, mas compromissos do coração falam mais alto.
Porém, tive de vir aqui partilhar uma série de sentimentos que têm brotado ao longo das parcas páginas que já li. Sim, sentimentos por vezes acompanhados de uma lagrimita, mas não, não é um livro de emoções-instantâneas e posso dizer que está muito bem escrito por uma pessoa que se revela muito inteligente.

Adiante. As ideias que desejo partilhar são as seguintes:

- Vale a pena entrar, nem que seja muito devagarinho, no mundo da entre-ajuda. Não estou, de todo, a desvalorizar o papel da restante rede de apoio (expressão feíota, eu sei, mas acho que é a que define melhor). Nem sequer estou a dizer que, na minha experiência, uma das dimensões onde vou encontrar alento é melhor do que a outra. São diferentes, ponto. E, vou contar-vos… esta menina tem-se surpreendido muito a cada passo na entre-ajuda. E, até agora, só ganhei.

- Penso que percebo agora porque é que a auto-ajuda pode ser algo falacioso: é auto e não entre. Duh! Não querendo ajuizar quem se faz valer da auto-ajuda, penso que é apenas mais uma forma de estar virado sobre si próprio. E um dos riscos de estarmos sempre virados para o espelho é precisamente a oferta limitada de visões que essa perspectiva oferece. Há que viajar e ver outras realidades, nem que sejam viagens pela net que foi onde encontrei o “meu” grupo de entre-ajuda.

- Sobre a leitura: fico sempre tão aparvalhada quando leio outras pessoas a descreverem na perfeição episódios que eu vivi. Estou a falar de livros que fazem partilha de experiências, e entra aqui uma grande diferença: não são livros de entre-ajuda, são de partilha, isso, apenas isso. Porque estamos a falar de leitura e de humanos que escrevem e não de génios - seres superiores e infalíveis. Ninguém pode pensar que vai ajudar alguém através de um livro. Não compreendo a ajuda como algo que acontece de forma unidireccional. E a leitura é-o. A leitura é um acto numa só direcção. E a escrita também. Por isso mesmo a diferença que refiro. O máximo que pode acontecer é eu ligar peças ao ler um livro de partilha e, a partir daí, tornar esse corolário em algo útil. Não quero, com isto, dizer que não nos possamos sentir gratos a quem escreveu.

Estarei a fazer sentido?

O que quero aqui dizer, e talvez fosse desnecessário o texto acima(?), é que, quando vivemos situações específicas que requerem alguma resiliência  para não se andar por aí a mal-dizer a vida, há ajudas. Não estamos sozinhos. E eu acho que é tão importante saber que não estamos sozinhos. Não que desejemos aflições às outras pessoas, mas porque sabemos que, de facto, shit happens e não é só a nós. Então, porque não nos aproximarmos um pouco (pode ser à laia de raposa) para observarmos como convivem outras pessoas com o mesmo tipo de situações?
Porque não? Porque somos muito ciosos da nossa privacidade? Ok, legítimo. Mas depois não me venham cá dizer que a privacidade é um lugar muito só. Vou começar por explicar que acho que a privacidade pode ser muito mais do que aquilo que pensamos ser um segredo bem guardado. E que, a cada camada da nossa privacidade que revelamos, estará lá outra a formar-se. E que não vamos deixar de ser únicos porque levantámos o véu de algo que, afinal, não nos é exclusivo. E acresce que, nos tempos que correm, nem sequer temos de o fazer revelando a nossa identidade ;)
Enfim, se me disserem que gostam de se considerar uma espécie de eremitas, então não percebo porque é que ainda estão a ler este texto :)

Finalizo confessando que tenho pensado muito em escrever sobre as minhas vivências, em formato de blog, apenas ainda não consegui resolver que grau de identificação da minha pessoa é que quero revelar. A decisão não é linear, é de tipo pau-de-dois-bicos, mas hei-de lá chegar. Porque, noutros contextos, já tive a oportunidade de saber que a partilha de algumas situações nos pode permitir a abertura de horizontes. E porque gosto de escrever. E porque me faz sentido que utilize a escrita para além da poesia. Ou antes, porque a entre-ajuda tem muito de poético. Vá, chamem-me fatela. Eu chamo-lhe uma espécie de entre-auto-ajuda ;)

Reli o texto e ainda não percebi se só fará sentido a mim.
Enfim, hoje sinto-me muito grata e quis partilhar estas ideias soltas.
Clique-se no botão “publicar”.



Cipreste

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

[da boca dos outros]

A todas as mães que ainda não têm filhos. 
Descobri que há mães que não têm filhos, assim como há mulheres que têm filhos mas não são mães. Ser mãe pode começar por ser um projecto de toda uma vida e, quando planeado conscientemente, uma nova etapa já está a ser assumida. Ainda antes dessa mãe engravidar e enquanto não sabe se a gravidez já está ou não a ocorrer, já cuida do seu bebé imaginário, preocupando-se, indo ao médico fazer o que é suposto, protegendo-o e assegurando dentro do que lhe é possível que nada do que fará com o seu corpo o irá prejudicar. Esta etapa, este compromisso, prepara-a para o que naturalmente deveria acontecer. Quando a gravidez teima em chegar, esse bebé começa a estar cada vez mais presente. De tal forma que quando, no final de cada ciclo, confirmamos que ele ainda não existe na realidade, o luto que nos bate à porta é a prova de que houve uma perda. Há mães que, não tendo filhos, depositam grande parte do seu investimento emocional, financeiro, profissional ou até relacional no que começou por ser um projecto mas já faz parte da sua vida. Por isso, quando penso na palavra MÃE, penso em todas aquelas que o querem ser mas (ainda) não puderam ter um filho.

Publicada por Mãe Sabichona

domingo, 3 de novembro de 2013

(música para ritos de passagem)

O momento em que percebemos que uma luta passa a ser um luto. 

 For now 
 Leaving point despair 
Leaving point hope 

 Getting lost to find a way back home 
Getting back by letting go

 



Cipreste