quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

internet e informação não tratada

Bom dia, pais de filhos com smartphones, tablets e computadores,

Digam-me como lidam com o acesso ilimitado (não nos iludamos) dos vossos filhos ao mundo?
Falo de crianças com 10, 11, 12 anos que, não nos iludamos, mesmo que não tenham dispositivos destes, acedem a elas ora através dos amigos, ora simplesmente através dos computadores das escolas.

Os nossos filhos têm o mundo nas suas mãos e eu acho que não têm maturidade para lidar com a grande parte da informação que lhes chega através de um clique.

Ajudai-me a lidar com este facto, por favor.

Grata,
Cipreste

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O Grito

Cada pessoa pensa os seus assuntos como as urgências do mundo, eu sei. É urgente tratar a questão dos transgénicos e da eutanásia, é urgente o reconhecimento do direito à sexualidade das pessoas com deficiência e que todos aprendamos língua gestual, era urgente que se salvasse aquela espécie que foi declarada extinta o ano passado. O meu assunto também é urgente, porque os meus filhos estão a crescer. E estão a crescer tão depressa.

Em breve, a minha filha será adolescente. Sinto esta gravidez da adolescência com um temor maior que o do parto que nunca fiz. Dizem-me que não reconhecerei a minha filha. Mas eu quero reconhecer a minha filha. Sempre. Quero que ela se reconheça e não sei como fazê-lo. Passo dias e noites a tentar engendrar uma fórmula para solucionar este enigma, para lá do amor. E fico cheia de medo, com vontade de gritar.

O meu filho escreveu-me uma carta que é uma declaração de amor, lá pelo meio escondeu esta pergunta “mãe, eu confio em ti, por isso gostava de saber a tua opinião sobre mim”. Um dos seres mais maravilhosos que existem à face da terra, e não sabe disso. Como posso fazer para que saiba? Como o posso amar ainda mais? Quis gritar.

Saio de casa e chego ao mundo. Quero encurtar a distância, quero que a nossa casa seja o mundo. Mas não está a ser, a nossa casa está a ser um refúgio, um bunker. Entramos aqui, fechamos a porta e enroscamo-nos uns nos outros. Como se tivera sido ontem a retirada dos meus filhos aos seus progenitores e estejamos a consolá-los do que aconteceu ontem. E sinto esta bola, esta esfera na garganta. É o mundo todo dentro da minha voz.

Penso: será que estamos a dar um tom trágico ao desenvolvimento normal de uma criança? Decido que era isso. Descanso dois dias. Acontece algo impensável. Novo susto. Ficamos interrompidos novamente. Revemos actos e omissões a tentar analisar a origem do mal. Questionamos-nos: será isto uma interrupção? Às vezes, chegamos à conclusão de que não era - estávamos a sobrevalorizar um evento, outras vezes, dói tanto de ter a certeza de que é o resultado de se ser abandonado.

Demos o nome às coisas: os nossos filhos foram abandonados numa casa estranha cheia de estranhos.
Ninguém sai incólume disto.
Ninguém.


Quando o meu pai morreu eu estava lá. Vivi um momento major. Estive próxima da origem da vida.
Passado algum tempo, talvez um mês, fui à praia com eles. Fomos os quatro. Era Inverno. Éramos só nós. E o mar. E o vento. Gritei. Gritei de verdade, de dentro de mim. Gritei um adeus que tive pudor de gritar de madrugada no hospital.


Convidei-os a gritar. Mas eles não têm coragem, ainda. Mas eu queria tanto que eles conseguissem gritar.


Eles também perderam o pai. E a mãe. Se é que os chegaram a ter. mas receiam gritar. Os meus bichinhos receiam o que possa haver para lá do grito. E a minha missão é mostrar-lhes que o que existe para lá do grito não é mágico nem instantâneo, mas é libertador.





E eu, eu queria subir a um palanque e gritar ao mundo o bê-á-bá sobre o medo das pessoas abandonadas. Não é um medo igual ao meu, ao nosso. Mas isso é todo um outro assunto: como fazer “os outros” perceberem “isto” sem expor os meus filhos?

E é aqui que reside o motivo da minha ausência neste blog que tanta falta me tem feito: a privacidade da minha família.
Ando a tentar encontrar a fórmula para estar publicamente neste assunto que é não só privado, mas isso mesmo: público.

A adopção é um assunto de saúde pública. Saúde mental.

Como a língua gestual que todos deveríamos saber, a sociedade deveria estar sensível para estes assuntos da adopção e do abandono, para lá da lágrima fácil que estes assuntos induzem.
Um dia destes, hei-de encontrar um lugar seguro. Um lugar que me permita usar a minha voz em prol de pais e filhos - e restante sociedade. O meu contributo. Sem gritar.
Porque há aqui muitas falhas, e todos sabemos disso. Pois então, farei disto o meu activismo.
Em busca de novas auroras.

Bom dia a todos,
que o dia vos seja limpo,
Cipreste